segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Esclarecendo o tantra àqueles que acham que o conhecem - parte 1



   Depois que comecei a frequentar a escola Cento Metamorfose em Itapeva, muitos curiosos e preconceituosos, assim como pessoas do bem – que não entendem o que é tantra, - sentiram estranheza na minha dedicação ao tema. Enfim, algumas pessoas queridas passaram a me olhar com outros olhos. O olhar da desconfiança parecia pairar em algumas cabeças. Tudo derivado da ignorância humana, ou mesmo da minha mente, não sei! no entanto, toda observação é importante. se o fato foi observado, melhor esclarecê-lo. A ignorância deve ser afastada sempre. Então me dediquei a conversar mais sobre o tantra com essas pessoas. Nada que após algumas informações e esclarecimentos desvinculassem suas tramas pessoais, seus medos e a desinformação que carregam, transformando-as em algo elucidativo e prazeroso. 

  Os mais curiosos já se arriscam a observar o site do centro metamorfose (www.centrometamorfose.com.br) e a questionarem maiores informações junto a mim. 

   Baseado nessa vivência, com um carinho típico de minha alma, vou tentar através desse bate-papo – afinal sempre podem interagir deixando mensagens ao final (comentários sempre são bem vindos) – fazer alguns breves esclarecimentos, que nos tornarão mais próximos, pois quando as pessoas passam a conhecer o tantra que pratico, por óbvio passam a conhecer um pouco mais de mim e de meus novos amigos e colegas.

   Não sei exatamente o que as pessoas entendem por tantra. 
   Já ouvi muita bobagem, algumas muito esquisitas. 
   Na verdade, poucos conhecem o tantra, então poucos entendem alguma coisa sobre o tantra, embora falem demais. 
   Há tanta fantasia no entorno do tantra, que fica difícil apagar os vícios da mente humana, deturpada com muita desinformação e erros. 

   Algumas pessoas acham que tantra está ligado ao sexo, através de grandes performances sexuais, surubas, sexo volátil e sem moral, tudo o que norteia a mente dos menos esclarecidos. Algumas outras, devido ao uso do sannyas, ainda nos confundem com tarados, prostitutas, gente do mal, que quer se esconder atrás de um nome. Outras, mesmo sem entender nada sobre o tema, acham que somos “divas” sexuais. São muitas confusões que se fazem por falta de informação.

   Chega a ser hilário ouvir tantas baboseiras, mas também é triste. Por isso decidi escrever um pouco sobre o tema.

   Só para sintonizar o objetivo do tema, eu costumo dizer que da mesma forma que o pole dance foi altamente massacrado pelas mídias, filmes  e pela mente humana, que sempre deturparam o verdadeiro esporte que se identifica na barra verticalizada com mulheres ou homens se apresentando, numa tarefa difícil do corpo. O tantra, cada vez mais popular, sofre a mesma deselegância. Se de um lado, os esportistas foram aviltados em sua intimidade, o tantra também provoca essa gosma social de ver no que é diferente algo anormal. Tal situação, por si só, bastaria para esclarecer que antes de falar sobre algo que não conhecemos, devemos buscar nos informar para ter nossa própria ideia sobre o que determinada coisa significa. É justamente a ignorância que leva ao preconceito e ao desamor, o que causam danos irreparáveis a humanidade. Portanto, assim como o pole dance não é um vinculo de imoralidade, o tantra não é imoral. O pole dance vem desmistificando sua imagem à medida que vem sendo cada vez mais conhecido, o tantra, embora mais antigo, segue o mesmo caminho. Então se você chegou até aqui, significa que tem interesse em conhecer ou pelo menos minimizar o seu desconhecimento, e, por assim ser, tornar-se uma pessoa melhor no mundo. Afinal, conhecimento é a arma contra todos os males que estragam a humanidade. Somente o conhecimento permite a evolução.


   Ultrapassadas as questões que me levaram a esse tema, passo a esclarecer. Acompanhe meu raciocínio, por favor. 

   O objetivo do tantra é o despertar da força potencial do homem. O tantra significa trama, tecido, como um emaranhado de fibras que se entrelaçam e formam um todo. Por isso, se relaciona com o conhecimento de si mesmo, sua aceitação e, por conseguinte, sua transformação. Assim como, as tramas moldam um tecido, dando-lhe consistência e forma, numa verdadeira estrutura, o tantra permite ao homem de forma ética, de amor e de concentração uma forma adequada de viver. O tantra original é pagão, e, portanto, não está relacionado com qualquer religião. Todavia, algumas religiões incorporaram o tantra como forma de atingir estágios evolucionários. 

   “A essência do Tantra, como tratam as escrituras tântricas, retrata um conjunto de práticas corporais que associadas a uma base filosófica consistente colocam a sexualidade e a energia sexual como ponto de partida para uma vida mais saudável e feliz. E, nesse sentido, podemos encarar o Tantra como um sistema milenar que, do outro lado do mundo, antecedeu alguns pressupostos básicos que a psicologia e a psicanálise só passaram a difundir no ocidente há pouco mais de cem anos. (http://www.virginiagaia.com.br/tantra/) .”
 

Localização na Índia

    Os historiadores, ainda não tem total certeza das datas e dos fatos históricos ocorridos há mais de dez mil anos atrás. Mas revela-se numa pesquisa básica, que havia um povo às margens do rio Indo, na antiga Índia, hoje seria no Paquistão, muito desenvolvido, estimado em aproximadamente 20.000 integrantes na sociedade, com agricultura desenvolvida, salas de banho e sistemas de esgotamento sanitário. Podemos ler mais sobre o tema em http://www.infopedia.pt/$civilizacao-do-vale-do-indo . Alguns historiadores narram que os arianos invadiram essas civilizações causando-lhes o fim, outras versões mais atuais narram que devido a uma grande seca, as civilizações que estavam no entorno geográfico foram desaparecendo. Hoje somente existem ruínas.  Talvez aí estejam as origens do tantra?


Civilização do Rio Indo - Escavações

   O que se sabe, não se discute, e se entende como correto é que o tantra é matriarcal. É na musa mãe que se encontram os traços mais importantes do tantra, o amor maternal, o início da vida, o sensorial... Nesse sentido o texto abaixo nos esclarece mais sobre esses temas, o texto foi extraído do livro Tantra a sexualidade sacralizada. Autor: DeRose.

                                                          
    A História do Tantra
   
   O Tantra é uma filosofia comportamental de características  matriarcais, sensoriais e desrepressoras. De onde surgiram essas características? A maior parte das sociedades primitivas não-guerreiras as tinham. 

   Toda sociedade na qual a cultura não era centrada na guerra, valorizava a mulher e até mesmo a divinizava, pois ela era capaz de um milagre que o homem não compreendia nem conseguia reproduzir: ela dava a vida a outros seres humanos. Gerava o próprio homem. Por isso era adorada como encarnação da divindade mesma. E mais: através das práticas tântricas, era a mulher que despertava o poder interno do homem por meio do sexo sacralizado. Ainda hoje ela é reverenciada como deusa no Tantra. 


   Daí, a qualidade matriarcal. Dela desdobram-se as outras duas características. A mãe dá à luz pelo seu ventre – isso é sensorial. Alimenta o filho com o seu seio – isso é sensorial também. Não poderia ser contra a valorização do corpo, não poderia ser anti-sensorial como os brahmácharyas. A mãe é sempre mais carinhosa e liberal do que o pai, até mesmo pelo fato de o filhote ter nascido do corpo dela e não do dele. E também porque é da natureza do macho ser mais agressivo e menos sensível. Pode ser que tal comportamento tenha muita influência cultural, mas é reforçado, sem dúvida, por componentes biológicos. 

   Por tudo isso e ainda como consequência da sensorialidade, desdobra-se a qualidade desrepressora do Tantra. O impulso pelo prazer não é obliterado ou reprimido como ocorre noutras linhas comportamentais. Pelo contrário, o Tantra considera o prazer como uma via bastante válida na conquista do desenvolvimento interior.


Antiga civilização do Rio Indo

   Assim era o povo drávida, que vivia antigamente no território hoje ocupado pela Índia. Assim era o Tantra que nasceu desse povo e assim era o Yôga que existia naquela época: um Yôga tântrico.
   Mas um dia a Índia começou a ser invadida por hordas de sub-bárbaros guerreiros, os áryas ou arianos.

   Ao guerreiro não podem importar o envolvimento mais profundo com a mulher nem a conseqüente família e o afeto. Seria até incoerente. Ele não pode ter laços que o amoleçam ou se sentirá acovardado diante da expectativa da luta e da morte sempre iminente. Então, ele torna-se contra a influência da mulher que frenaria sua liberdade e seu impulso belicoso. É contra os prazeres que o tornariam acomodado. É contra a sensorialidade, pois também não pode se permitir sensibilidade à dor durante o combate ou perante a tortura. Por isso tudo, ele é anti-sensorial, restritivo à mulher e contra o prazer. Por conseqüência, torna-se repressor, pois começa a proibir o sexo, a convivência com a mulher e os prazeres em geral. Depois expande essa restrição, tornando-a uma maneira de ser, uma filosofia comportamental.

   Quando os arianos ocuparam a Índia há 3.500 anos, impuseram a cultura brahmácharya (patriarcal, anti-sensorial e repressora), proibindo, portanto, a cultura tântrica (matriarcal, sensorial e desrepressora) por ser oposta ao regime vigente. Quem praticasse o Tantra e reverenciasse a mulher, ou divindades femininas, seria acusado de subversão e traição. Como tal, seria perseguido, preso e torturado até a morte.


O que sobrou historicamente

  
  O tantra não é algo demoníaco e imoral, mas tão somente uma forma de encontrar consigo mesmo.
  
   Bom por hoje é só. Creio que a primeira parte de esclarecimentos quanto ao tantra foi boa. No próximo bloco darei continuidade ao tema de forma mais atual.

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