Depois que comecei a frequentar a
escola Cento Metamorfose em Itapeva, muitos curiosos e preconceituosos, assim
como pessoas do bem – que não entendem o que é tantra, - sentiram estranheza na
minha dedicação ao tema. Enfim, algumas pessoas queridas passaram a me olhar
com outros olhos. O olhar da desconfiança parecia pairar em algumas cabeças. Tudo derivado da ignorância humana, ou mesmo da minha mente, não sei! no entanto, toda observação é importante. se o fato foi observado, melhor esclarecê-lo. A ignorância deve ser afastada sempre. Então me dediquei a conversar mais sobre o tantra com essas pessoas. Nada que após algumas informações e esclarecimentos desvinculassem suas tramas
pessoais, seus medos e a desinformação que carregam, transformando-as em algo elucidativo e
prazeroso.
Os mais curiosos já se arriscam a observar o site do centro
metamorfose (www.centrometamorfose.com.br)
e a questionarem maiores informações junto a mim.
Baseado nessa vivência, com um carinho
típico de minha alma, vou tentar através desse bate-papo – afinal sempre podem
interagir deixando mensagens ao final (comentários sempre são bem vindos) –
fazer alguns breves esclarecimentos, que nos tornarão mais próximos, pois
quando as pessoas passam a conhecer o tantra que pratico, por óbvio passam a
conhecer um pouco mais de mim e de meus novos amigos e colegas.
Não sei exatamente o que as
pessoas entendem por tantra.
Já ouvi muita bobagem, algumas muito esquisitas.
Na
verdade, poucos conhecem o tantra, então poucos entendem alguma coisa sobre o
tantra, embora falem demais.
Há tanta fantasia no entorno do tantra, que fica difícil apagar os
vícios da mente humana, deturpada com muita desinformação e erros.
Algumas
pessoas acham que tantra está ligado ao sexo, através de grandes performances sexuais,
surubas, sexo volátil e sem moral, tudo o que norteia a mente dos menos esclarecidos.
Algumas outras, devido ao uso do sannyas, ainda nos confundem com tarados, prostitutas,
gente do mal, que quer se esconder atrás de um nome. Outras, mesmo sem entender
nada sobre o tema, acham que somos “divas” sexuais. São muitas confusões que se fazem por falta de informação.
Chega a ser hilário ouvir
tantas baboseiras, mas também é triste. Por isso decidi escrever um pouco sobre
o tema.
Só para sintonizar o objetivo do
tema, eu costumo dizer que da mesma forma que o pole dance foi altamente
massacrado pelas mídias, filmes e pela
mente humana, que sempre deturparam o verdadeiro esporte que se identifica na
barra verticalizada com mulheres ou homens se apresentando, numa tarefa difícil
do corpo. O tantra, cada vez mais popular, sofre a mesma deselegância. Se de um
lado, os esportistas foram aviltados em sua intimidade, o tantra também provoca
essa gosma social de ver no que é diferente algo anormal. Tal situação, por si
só, bastaria para esclarecer que antes de falar sobre algo que não conhecemos,
devemos buscar nos informar para ter nossa própria ideia sobre o que
determinada coisa significa. É justamente a ignorância que leva ao preconceito
e ao desamor, o que causam danos irreparáveis a humanidade. Portanto, assim como
o pole dance não é um vinculo de imoralidade, o tantra não é imoral. O pole dance
vem desmistificando sua imagem à medida que vem sendo cada vez mais conhecido,
o tantra, embora mais antigo, segue o mesmo caminho. Então se você chegou até
aqui, significa que tem interesse em conhecer ou pelo menos minimizar o seu desconhecimento, e, por assim ser, tornar-se uma pessoa melhor no mundo. Afinal,
conhecimento é a arma contra todos os males que estragam a humanidade. Somente o
conhecimento permite a evolução.
Ultrapassadas as questões que me
levaram a esse tema, passo a esclarecer. Acompanhe meu raciocínio, por favor.
O objetivo do tantra é o
despertar da força potencial do homem. O tantra significa trama, tecido, como
um emaranhado de fibras que se entrelaçam e formam um todo. Por isso, se
relaciona com o conhecimento de si mesmo, sua aceitação e, por conseguinte, sua
transformação. Assim como, as tramas moldam um tecido, dando-lhe consistência e
forma, numa verdadeira estrutura, o tantra permite ao homem de forma ética, de
amor e de concentração uma forma adequada de viver. O tantra original é pagão,
e, portanto, não está relacionado com qualquer religião. Todavia, algumas
religiões incorporaram o tantra como forma de atingir estágios evolucionários.
“A essência do Tantra, como
tratam as escrituras tântricas, retrata um conjunto de práticas corporais que
associadas a uma base filosófica consistente colocam a sexualidade e a energia
sexual como ponto de partida para uma vida mais saudável e feliz. E, nesse
sentido, podemos encarar o Tantra como um sistema milenar que, do outro lado do
mundo, antecedeu alguns pressupostos básicos que a psicologia e a psicanálise
só passaram a difundir no ocidente há pouco mais de cem anos. (http://www.virginiagaia.com.br/tantra/)
.”
Localização na Índia |
Os historiadores, ainda não tem
total certeza das datas e dos fatos históricos ocorridos há mais de dez mil
anos atrás. Mas revela-se numa pesquisa básica, que havia um povo às margens do
rio Indo, na antiga Índia, hoje seria no Paquistão, muito desenvolvido,
estimado em aproximadamente 20.000 integrantes na sociedade, com agricultura
desenvolvida, salas de banho e sistemas de esgotamento sanitário. Podemos ler
mais sobre o tema em http://www.infopedia.pt/$civilizacao-do-vale-do-indo
. Alguns historiadores narram que os arianos invadiram essas civilizações
causando-lhes o fim, outras versões mais atuais narram que devido a uma grande
seca, as civilizações que estavam no entorno geográfico foram desaparecendo.
Hoje somente existem ruínas. Talvez aí estejam as origens do tantra?
Civilização do Rio Indo - Escavações |
O que se sabe, não se discute, e
se entende como correto é que o tantra é matriarcal. É na musa mãe que se
encontram os traços mais importantes do tantra, o amor maternal, o início da
vida, o sensorial... Nesse sentido o texto abaixo nos esclarece mais sobre
esses temas, o texto foi extraído do livro Tantra a sexualidade sacralizada.
Autor: DeRose.
A História do Tantra
O Tantra é uma filosofia
comportamental de características
matriarcais, sensoriais e desrepressoras. De onde surgiram essas
características? A maior parte das sociedades primitivas não-guerreiras as
tinham.
Toda sociedade na qual a cultura
não era centrada na guerra, valorizava a mulher e até mesmo a divinizava, pois
ela era capaz de um milagre que o homem não compreendia nem conseguia
reproduzir: ela dava a vida a outros seres humanos. Gerava o próprio homem. Por
isso era adorada como encarnação da divindade mesma. E mais: através das
práticas tântricas, era a mulher que despertava o poder interno do homem por
meio do sexo sacralizado. Ainda hoje ela é reverenciada como deusa no Tantra.
Daí, a qualidade matriarcal. Dela
desdobram-se as outras duas características. A mãe dá à luz pelo seu ventre –
isso é sensorial. Alimenta o filho com o seu seio – isso é sensorial também.
Não poderia ser contra a valorização do corpo, não poderia ser anti-sensorial
como os brahmácharyas. A mãe é sempre mais carinhosa e liberal do que o pai, até
mesmo pelo fato de o filhote ter nascido do corpo dela e não do dele. E também
porque é da natureza do macho ser mais agressivo e menos sensível. Pode ser que
tal comportamento tenha muita influência cultural, mas é reforçado, sem dúvida,
por componentes biológicos.
Por tudo isso e ainda como
consequência da sensorialidade, desdobra-se a qualidade desrepressora do
Tantra. O impulso pelo prazer não é obliterado ou reprimido como ocorre noutras
linhas comportamentais. Pelo contrário, o Tantra considera o prazer como uma
via bastante válida na conquista do desenvolvimento interior.
Antiga civilização do Rio Indo |
Assim era o povo drávida, que
vivia antigamente no território hoje ocupado pela Índia. Assim era o Tantra que
nasceu desse povo e assim era o Yôga que existia naquela época: um Yôga
tântrico.
Mas um dia a Índia começou a ser
invadida por hordas de sub-bárbaros guerreiros, os áryas ou arianos.
Ao guerreiro não podem importar o
envolvimento mais profundo com a mulher nem a conseqüente família e o afeto.
Seria até incoerente. Ele não pode ter laços que o amoleçam ou se sentirá
acovardado diante da expectativa da luta e da morte sempre iminente. Então, ele
torna-se contra a influência da mulher que frenaria sua liberdade e seu impulso
belicoso. É contra os prazeres que o tornariam acomodado. É contra a
sensorialidade, pois também não pode se permitir sensibilidade à dor durante o
combate ou perante a tortura. Por isso tudo, ele é anti-sensorial, restritivo à
mulher e contra o prazer. Por conseqüência, torna-se repressor, pois começa a proibir
o sexo, a convivência com a mulher e os prazeres em geral. Depois expande essa
restrição, tornando-a uma maneira de ser, uma filosofia comportamental.
Quando os arianos ocuparam a
Índia há 3.500 anos, impuseram a cultura brahmácharya (patriarcal,
anti-sensorial e repressora), proibindo, portanto, a cultura tântrica
(matriarcal, sensorial e desrepressora) por ser oposta ao regime vigente. Quem
praticasse o Tantra e reverenciasse a mulher, ou divindades femininas, seria
acusado de subversão e traição. Como tal, seria perseguido, preso e torturado
até a morte.
O que sobrou historicamente |
O tantra não é algo demoníaco e imoral, mas tão somente uma forma de encontrar consigo mesmo.
Bom por hoje é só. Creio que a
primeira parte de esclarecimentos quanto ao tantra foi boa. No próximo bloco
darei continuidade ao tema de forma mais atual.
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